TECNOMAGIA II: Intervenção no Fluxo da Realidade
A persona do mago possui também uma relação estreita com a convivência com os “tabus” preestabelecidos pelas gerações anteriores, podendo ele posicionar-se tanto passivo à elas quanto se colocar contrário ou simplesmente ignorar tais códigos vigentes. Identificamos essa relação quanto a política dos tabus sociais principalmente ao se tratar das questões de natureza e identidade sexual, conforme sua dinâmica na vida cotidiana da sociedade da qual faz parte. Um exemplo disso pode ser as normatizações de práticas xamânico-taoistas na china pré revolução cultural maoista, onde os seguidores dessa crença eram conhecidos por praticarem métodos de controle do orgasmo e a vacuidade similares aos tantrica da mão esquerda (que ritualizam o sexo como “maithuna”), a despeito da moral confucionista e sua codificação dos papeis sexuais masculino e feminino diante do dever junto a sociedade e ao imperador. O corpo como meio de excitação e privação fora de um conceito de natureza é próprio de muitos desses agentes místicos, que viam em tais práticas os meios adequados para grandes alterações de consciência e transformações na realidade. Não é diferente, apenas outro contexto, a questão das identidades sexuais, relacionais ou a cultura “Queer”, uma forte manifestação das transformações dos conceitos de gênero e sexualidade através de uma roupagem contemporânea, mas ainda sim, uma manifestação de enfrentamento frente a séculos de um peso de hegemonia heterossexual reguladora.
O fato é que o (tecno)mago, assim como o ativista, lida com a arma simbólica como enfrentamento junto a uma sociedade normativa, desrespeitosa e massacrante. Seu rito contextador ressignifica os antigos ritos de levante tribal para a guerra, transformando a realidade contrária em um campo de dinâmicas operantes, de longa duração e de conscientização geracional. As questões de embates já não são mais aquelas de expulsão de espíritos malígnos, curas milagorsas e vitórias tribais, mas o anticapitalismo, anticorrupção, democracia real, energia limpa e consciência ecológica são algumas dessas lutas. As tribos globais não se comunicam telepaticamente, mas em tempo real, na velocidade das trocas de dados, ativando questões e reflexões em velocidades altíssimas e gerando ações diretas cada vez mais pungentes e de estratégias mistas. Para se ter uma ideia, basta comparar a origem recente do uso dos flashmobs (nos movimentos antiglobalizantes nos EUA, na Itália, México e Canadá) e as grandes mobilizações globais atuais, a exemplo da (cáustica) Primavera Árabe e o movimento dos Occupy World e os ativismos antinucleares em Fukushima.
O problema envolvendo as questões atuais globais e locais, a questão das identidades sexuais, religiosas e étnicas, a questão da liberdade e da responsabilidade dos indivíduos e dos grupos frente a manutenção de uma consciência ecológica e um viver sustentável no Mundo, tudo isso implica em uma questão tecnomágica, seja qual for a estratégia de ativação e resignificação da realidade , seja qual for seus códigos.
Publicado em maio 18, 2012, em Arte+Hacker+Experimentalismo, Teconamagia e ativismo. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.
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